Depois
de algum tempo sem ver meus avós, retornei à casa deles. Entrei, dei aquele
falso abraço de saudades inexistentes e logo caminhei para o quarto. Olhei para
a cama de casal na qual eu havia dormido nas férias de 2011, sozinho, apenas
com o telefone ao lado da cabeça enquanto conversava com ela. Senti que uma
lágrima queria escorrer dos meus olhos e aquele aperto horrível me fazia
engasgar sem motivo, mas tive que ser mais forte que meus – até então esquecidos – sentimentos.
Tranquei a porta do quarto e tirei minha roupa, ficando apenas com a roupa de baixo, abri a
janela que dava para a rua, coloquei a tela de proteção de fechei a cortina.
8°C e eu seminu, deitado na cama, pensando no nada. Não demorou muito e eu
acabei apagando, afinal eu estava cansado por causa da viagem, que fiz durante
a madrugada e terminou somente uma hora depois do nascer do sol.
Quando
fui acordar, já eram 20 horas, e o jantar estava pronto. Meus tios por parte de
pai estavam na casa e fizeram alguma coisa que comi sem olhar, sem sentir o
cheiro nem o gosto. Nada mais tinha gosto, desde que eles – os sentimentos –
haviam voltado. Não lembraram do meu aniversário, mas nem me importei. Peguei
uma garrafa de vinho tinto (muito velho, por sinal), e bebi quase sozinho. Mais
outras duas garrafas de branco foram em seguida. Sob o efeito do álcool e com
os sentimentos rondando, não consegui pensar em nada mais além de ir dormir de
novo, mas só de chegar perto daquela cama já me dava calafrios. Dormi no chão
da sala.
Na
manhã do sábado, quando acordei, a casa estava vazia, haviam algumas cobertas
pesadas em cima de mim e as janelas estavam abertas. Coloquei uma roupa e fui
para a rua, olhar a névoa da manhã que pairava com suavidade as folhas secas
que caíam e estalavam ao bater no chão. Peguei minha carteira, deixei o
celular desligado em cima da cama e fui andar pela cidade. Não demorou muito e
eu já estava no centro, praticamente sozinho, já que o comércio de sábado não
abre até as 14 horas naquela cidade pequena. Fui até a igreja e sentei em um
dos vários bancos que estavam um pouco molhados devido ao sereno frio da
madrugada. A névoa já não estava me acompanhando, ao invés disso o sol subia e
me aquecia da maneira que eu não queria, o que me fez me esconder nas sombras
enquanto caminhava de volta para a casa dos avós. Não sei porque, mas demorei
mais para voltar do que para ir até o centro, pois quando cheguei já eram 11
horas, e já estavam preparando o almoço. Fui recebido com um “por onde
esteve?”. Fingi que não ouvi e fui para o quarto, ligar o celular. Nenhuma nova
mensagem, nenhuma ligação não atendida, nada. Apertei sem querer o botão
direcional para baixo e entrei na lista de contatos. Meus olhos sonolentos
pararam no primeiro nome que estava escrito e fiquei parado de pé durante quase
um minuto, enquanto memórias indesejáveis invadiam novamente minha mente.
Joguei o celular no chão, fazendo a
bateria sair.
Almocei,
conversei pouco com os parentes, caminhei por onde não conhecia até me perder e
achar o caminho de volta. Por onde quer que eu fosse, era notável que o
movimento era quase inexistente, exceto quando eu passava na frente de uma das
casas em que o cheiro da carne sobre a brasa invadia meus pulmões, e as risadas
estridentes de amigos e parentes desconhecidos de pessoas que não conheço
insistiam em perfurar meus tímpanos. Não demorou muito e o tédio misturado ao
sono batiam nas pálpebras e afetavam as pernas, que caminhavam lentamente de
volta à casa dos avós. Arrumei minha mochila, entrei no carro, liguei a música
e fiz o caminho de volta para casa, ouvindo as músicas que ela mais gosta.
Nada de
bom aconteceu comigo. Não conheci ninguém que pudesse me fazer sentir bem de
novo. Aliás, não conheci ninguém novo. Espero que eu seja a única esperança
para ela, porque ela é a única esperança para mim.