sexta-feira, 31 de agosto de 2012

????


                Deduzi que minha dificuldade para escrever um texto que expresse meus sentimentos mais profundos existe para que eu não escreva sobre eles. Liberar tudo de ruim que sinto, fazendo sair do fundo da minha alma, emergir para a luz, passando por cada milímetro de carne e ossos que tem no meu corpo, rasgando a pele, não me serve de nada se não fazer sentir pior do que eu normalmente me sinto. Isso é o que acontece quando não se tem ninguém para compartilhar as decepções que sinto a cada segundo que percebo que ainda estou nesse mundo, compartilhando a vida com pessoas que, assim como eu, não a merecem por fazer pouco dela.
                Depois de meses aprisionado nas memórias que lutam cada dia mais para permanecer na minha cabeça, martelando devagar e fraquinho, decidi que não vou mais me importar comigo ou com mais ninguém, sendo que a recíproca é quase totalmente verdadeira.
                A insônia ataca de forma tal que nem o mais potente sonífero consegue afastar os pensamentos que me fazem continuar acordado e que atacam silenciosamente. Terminarei esse texto sem uma conclusão devida porque sempre me decepciono com a centelha de inspiração que me obriga a escrever e não me permite terminar.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Disse que não ia te deixar pra trás


                Depois de algum tempo sem ver meus avós, retornei à casa deles. Entrei, dei aquele falso abraço de saudades inexistentes e logo caminhei para o quarto. Olhei para a cama de casal na qual eu havia dormido nas férias de 2011, sozinho, apenas com o telefone ao lado da cabeça enquanto conversava com ela. Senti que uma lágrima queria escorrer dos meus olhos e aquele aperto horrível me fazia engasgar sem motivo, mas tive que ser mais forte que meus    – até então esquecidos – sentimentos. Tranquei a porta do quarto e tirei minha roupa, ficando apenas com a roupa de baixo, abri a janela que dava para a rua, coloquei a tela de proteção de fechei a cortina. 8°C e eu seminu, deitado na cama, pensando no nada. Não demorou muito e eu acabei apagando, afinal eu estava cansado por causa da viagem, que fiz durante a madrugada e terminou somente uma hora depois do nascer do sol.
                Quando fui acordar, já eram 20 horas, e o jantar estava pronto. Meus tios por parte de pai estavam na casa e fizeram alguma coisa que comi sem olhar, sem sentir o cheiro nem o gosto. Nada mais tinha gosto, desde que eles – os sentimentos – haviam voltado. Não lembraram do meu aniversário, mas nem me importei. Peguei uma garrafa de vinho tinto (muito velho, por sinal), e bebi quase sozinho. Mais outras duas garrafas de branco foram em seguida. Sob o efeito do álcool e com os sentimentos rondando, não consegui pensar em nada mais além de ir dormir de novo, mas só de chegar perto daquela cama já me dava calafrios. Dormi no chão da sala.
                Na manhã do sábado, quando acordei, a casa estava vazia, haviam algumas cobertas pesadas em cima de mim e as janelas estavam abertas. Coloquei uma roupa e fui para a rua, olhar a névoa da manhã que pairava com suavidade as folhas secas que caíam e estalavam ao bater no chão. Peguei minha carteira, deixei o celular desligado em cima da cama e fui andar pela cidade. Não demorou muito e eu já estava no centro, praticamente sozinho, já que o comércio de sábado não abre até as 14 horas naquela cidade pequena. Fui até a igreja e sentei em um dos vários bancos que estavam um pouco molhados devido ao sereno frio da madrugada. A névoa já não estava me acompanhando, ao invés disso o sol subia e me aquecia da maneira que eu não queria, o que me fez me esconder nas sombras enquanto caminhava de volta para a casa dos avós. Não sei porque, mas demorei mais para voltar do que para ir até o centro, pois quando cheguei já eram 11 horas, e já estavam preparando o almoço. Fui recebido com um “por onde esteve?”. Fingi que não ouvi e fui para o quarto, ligar o celular. Nenhuma nova mensagem, nenhuma ligação não atendida, nada. Apertei sem querer o botão direcional para baixo e entrei na lista de contatos. Meus olhos sonolentos pararam no primeiro nome que estava escrito e fiquei parado de pé durante quase um minuto, enquanto memórias indesejáveis invadiam novamente minha mente. Joguei o celular no chão, fazendo a  bateria sair.
                Almocei, conversei pouco com os parentes, caminhei por onde não conhecia até me perder e achar o caminho de volta. Por onde quer que eu fosse, era notável que o movimento era quase inexistente, exceto quando eu passava na frente de uma das casas em que o cheiro da carne sobre a brasa invadia meus pulmões, e as risadas estridentes de amigos e parentes desconhecidos de pessoas que não conheço insistiam em perfurar meus tímpanos. Não demorou muito e o tédio misturado ao sono batiam nas pálpebras e afetavam as pernas, que caminhavam lentamente de volta à casa dos avós. Arrumei minha mochila, entrei no carro, liguei a música e fiz o caminho de volta para casa, ouvindo as músicas que ela mais gosta.
                Nada de bom aconteceu comigo. Não conheci ninguém que pudesse me fazer sentir bem de novo. Aliás, não conheci ninguém novo. Espero que eu seja a única esperança para ela, porque ela é a única esperança para mim.

domingo, 22 de abril de 2012

sábado, 21 de abril de 2012

Palavras ao vento.


                Gostaria de poder falar tudo que penso, que sinto, que já vivi, mas não consigo, tenho algum bloqueio que não me deixa falar tudo o que quero. Sempre que tento, sinto como se fossem palavras vazias faladas ao vento, sem razão, sem sentido nem direção, são apenas segundos, minutos, perdidos, divagando pela minha mente e atirando as palavras como quem fala com tudo e o nada.
                Cada um desses segundos, minutos, até mesmo dias que acabo inutilizando, apenas pensando e pensando me fazem sentir pior do que já estou, e as incertezas me acertam no peito com facas tão afiadas quanto o vento mais veloz da noite mais fria, deixando cortes e queimaduras que permanecem fortes nos momentos iniciais de sua dor, e tão duradouros e vívidos quanto uma árvore dos tempos de antes de Cristo.
                Esses sentimentos e palavras reprimidas que aos poucos tento (e tento, e tento, e tento) soltar ao vento, voltam com força, e me machucam. Me machuco sozinho. Ás vezes, até mesmo os mais breves pensamentos me deixam em ruínas. Devo parar de pensar ou devo parar de amar?

terça-feira, 17 de abril de 2012

Vícios.


                Eu nasci viciado na pior droga da atualidade. Minha mãe usou dela durante minha gestação, fazendo de mim um feto viciado nessa maldita droga. Desde criança eu sou usuário, e acabei viciando todos ao meu redor, coitados. Por algum motivo estranho eles nunca me culparam, mas sim a própria vida, que dizem tê-los feito cair na desgraça. O efeito é algo maravilhoso, impossível de se explicar, e assim que você usa você não consegue mais deixar de lado. A dor causada pela abstinência é algo inimaginavelmente horrível. É uma via interminável e sem volta.
                Meu nome é Lucas, e eu sou um viciado em amor.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Horas desperdiçadas em mais um outono solitário.


                As árvores, no geral, acima de nós... Observando a passagem de nossas vidas como se fosse uma pequena fração de segundo para esses gigantes quase imortais. A calma que têm enquanto o vento violento passa por entre seus galhos, levando suas folhas mortas, continuando indiferentes e imóveis. Sua presença hoje em dia quase não é mais notada, exceto por aqueles que têm suas mentes nas nuvens, assim como sua beleza.
                Tenho preferência pelo outono. Curiosamente ele é mais frio que o inverno, na minha cidade. As folhas das árvores espalhadas pelo chão, com aquela coloração que varia entre marrom, laranja e amarelo, combinam perfeitamente com o cinza das roupas das pessoas que passam nas ruas, e do vazio que sinto dentro de mim. É quase como se eu pudesse pegar todas as folhas que encontrasse e preencher-me com elas. Caminho pelas ruas sozinho enquanto ouço música, com um pequeno sorriso no rosto, quase imperceptível. O frio envolvendo meu corpo cada vez que dou um passo, que esgota pouco a pouco minha energia.
                Conheço um pequeno café, longe de casa, para o qual gosto de ir a pé, sentar em uma das pequenas mesas que ficam na calçada e tomar um cappuccino, sempre sozinho. Passeio observando as pessoas, assim como as árvores fazem, só que de um ângulo diferente, do chão. Às vezes observo por tempo demais, e volto para casa com o céu já escuro, e com a respiração já dificultada pelo frio, queimando por dentro de uma maneira deliciosamente dolorosa.
Essas horas gastas com inutilidades me fazem sentir bem, e em poucos dias essa rotina vai recomeçar, ainda bem. O frio me conforta de uma maneira estranha, mas boa. Solidão não é um sentimento, é uma realidade.